terça-feira, 28 de março de 2017

Sugestão de tradução e reflexão para 6 de Abril

Traduzir um de dois poemas de Gary Snyder: "Cross-Legg'd" ou "Sourdough Mountain Lookout".

Colocar tradução no blogue e, caso haja tempo, comentar em relação à cedência a tendências deformantes segundo Antoine Berman.


8 comentários:

  1. Meio de Agosto no
    Mirante da Montanha de Sourdough

    Sobre o vale uma névoa esfumada
    Três dias de calor, depois cinco dias de chuva
    Brilho escuro nos cones de pinheiros
    Através de rochas e prados
    Enxames de novos mosquitos.

    Não posso lembrar de coisas que já li
    Alguns amigos, mas estão em cidades.
    Bebendo água de neve gelada de uma lata
    Olhando abaixo através de milhas
    Através do ar calmo nas alturas.


    Diversas vezes pensei em explicitar termos do poema como “pitch glows”, “fir-cones” e “snow-water”, considerando o fato de que são aspectos característicos do ambiente das montanhas do norte, aspectos esses que talvez não sejam conhecidos pelo leitor. Se tivesse feito essa explicitação, estaria colocando em prática a tendência da clarificação e talvez também a tendência do alongamento, pois o texto ficaria mais longo. Em relação aos termos citados acima, ocorreu a tendência do empobrecimento qualitativo na minha tradução, pois “brilho escuro”, “cones de pinheiros” e “água de neve” não possuem a riqueza sonora e icónica dos termos em inglês.

    Esse poema apresenta diversas enumerações de “imagens” que se manifestam no poema quase como fotografias, talvez uma influência do estilo pictórico da poesia japonesa na atividade poética de Gary Snyder. Essa impressão de que o poema é construído a partir de imagens é sustentado pelo fato de que alguns versos não apresentam verbos, como em “across rocks and meadows” e “through high still air”. O uso de preposições, conjuções e artigos também é moderado, como em “three days heat, after five days rain”. Procurei respeitar essas características do poema na tradução, mas em alguns momentos realizei a tendência de racionalização, modificando a estrutura do poema, como em “três dias de calor, depois cinco dias de chuva”.

    ResponderEliminar
  2. Meados de Agosto na vigia de Sourdough Mountain

    No vale em baixo uma névoa de fumo
    Três dias de calor, após cinco dias de chuva
    Resina brilha nas pinhas de abeto
    Por prados e rochedos
    Enxames de moscas novas.

    Não recordo coisas que uma vez li
    Alguns amigos, mas estão em cidades
    Bebendo água da neve gelada por uma caneca
    Olhando os quilómetros em baixo
    Por entre o ar calmo e puro.

    Beatriz

    ResponderEliminar
  3. Meados de Agosto na Vigia da Montanha de Sourdough

    Na descida do vale uma neblina
    Quente há três dias, depois de cinco dias de chuva
    Resina brilha nas pinhas de abeto
    Pelos rochedos e prados
    Enxames de novos mosquitos.

    Não me lembro de coisas que já li
    Alguns amigos, mas estão nas cidades.
    Bebendo água fria como a neve de uma caneca de lata
    Olhando milhas abaixo
    Através do alto e parado ar.


    Uma das primeiras questões em que pensei, principalmente por se tratar de um caso prático, foi sobre a tradução de "miles". Embora "quilómetros" seja o mais comum em português, e, sem dúvida, caso se tratasse de um texto técnico seria a expressão mais correcta, nesta situação não creio que o seja. Para além do etnocentrismo que Berman refere, caso traduzisse para "quilómetros" em vez de "milhas", estaria a apagar a letra do autor - a sua origem americana (mesmo que a localidade que intitula o poema acabe por indicá-la), que é das poucas que contabiliza a distância em milhas. Tenho dúvidas em relação â tradução de “smoke haze” por “neblina” ou “névoa de fumo”. Para um português, “neblina” pressupõe essa ideia de um névoa densa. No entanto, é possível que apague a imagem do fumo. Creio que, nesta situação, haja alguma destruição da relação entre palavras.

    ResponderEliminar
  4. Pernas Cruzad's


    De pernas cruzad’s sob o baixo tecto da tenda,
    luz fraca, jantar feito,

    bebendo chá. Vivemos
    no velho e seco oeste

    camisolas subidas pele nua
    finos tocam lábios—

    velhos toques.
    Amor feito, poemas, feitos,

    sempre nova, mesma coisa
    vida após vida,

    como se Milarepa
    quatro vezes construísse uma torre de pedra

    como se cada vez fosse a primeira.
    O nosso amor está misturado com

    pedras e riachos,
    um bater do coração, um suspiro, um olhar

    dá lufar no turbilhão atordoado.
    Viver desta velha clara forma

    —um cintilar de cinzas e brasas.
    Brisa áspera na tenda voa

    um gole chá, palpite nos ossos,
    nós dois aqui o que vier.


    Ana Margarida Laranjeira

    ResponderEliminar
  5. Aos meiado do mês Agosto na guarda da montanha de sourdought

    No vale a baixo um nevoeiro de fumo
    Três dias de calor, após cinco dias de chuva
    campo brilha nas pinhas de abeto
    Entre rochas e prados
    Enxames de moscas novas
    Não me lembro de coisas que uma vez li
    Alguns amigos, mas eles estão nas cidades.
    Bebendo água fresca da neve numa caneca de metal
    Olhando milhas em baixo
    Através do ar ainda alto.

    ResponderEliminar
  6. Meados de Agosto na Vigia da Montanha Sourdough

    No vale em baixo, uma névoa de fumo
    Cinco dias de chuva, quente há três dias
    Brilha a resina nas pinhas
    Entre rochas e prados
    Enxames de moscas novas.

    Não consigo recordar coisas que uma vez li
    Alguns amigos, mas eles estão nas cidades.
    Beber água da neve fria de um copo de lata
    Olhando a distância em redor
    Através do ar dormente

    ResponderEliminar
  7. Meados de Agosto na vigia da montanha de Sourdough

    No vale em baixo uma neblina de fumo
    Três dias de temperatura alta, após de cinco dias de chuva
    O brilho sombrio nas pinhas de abeto
    Entre rochas e prados
    Enxames de moscas novas

    Não me lembro de coisas que uma vez li
    Alguns amigos, mas estão nas cidades
    Bebendo água fresca num copo de lata
    Observando os quilómetros a baixo
    Através do ar tranquilo das alturas

    ResponderEliminar
  8. Meados de Agosto no Alto da Montanha Sourdough, Gary Snyder



    A neblina desce pelo vale
    Três dias de calor, depois de três dias de chuva
    O brilho da resina nos pinheiros
    Enquanto novos enxames de moscas
    Sobrevoam montanhas e pastos

    Não me lembro de coisas que já li
    Alguns amigos, mas estão nas cidades.
    Bebendo água gelada da neve num copo de alumínio
    Observando os quilómetros percorridos
    Através do ar parado e suspenso.

    ResponderEliminar