quinta-feira, 16 de março de 2017

"O Búfalo", Marianne Moore (tradução de Margarida Vale de Gato)

O Búfalo
    
         O preto nos brazões significa
prudência, a negritude o aziago. Terá
a hematite-
     -preta dos chifres recurvos do bisonte
         algum significado? A
cauda em tufo de escura fuligem
     numa espécie de rabo

     leonino: que pode exprimir?
E o Ajax de John Stewart Curry a puxar
ervas – sem argola
     no focinho – os dois passarinhos no lombo?
        
         * * *
         A moderna
rês não condiz com o retrato da rês
de Augsburgo. Sim,
     a besta extinta, o bravo auroco, era grande
         de se pintar, com listras
e uma ampla armação de cornos – então rebaixado
            à forma siamesa

         de gato ou boi pardo-
suíço ou senão zebu, de fofa e alva papada e bossa de sangue
quente; ao boi
     Hereford encarnado ou ao Holstein variegado. Porém,
         segundo alguns o búfalo de pêlo ralo é
     o mais talhado
            para padrões humanos –

     ao contrário do elefante,
que é jóia e ourives das crinas
que enverga –
     não o boi de focinho branco de Vermont arcando
         com sua parelha a seiva de ácer,
ambos atolados na
            neve; sequer o aberrante

         Boi de Atropelo que desenhou
Rowlandson, mas o búfalo das Índias,
albino
     nas patas sobre um charco de lama com um
         dia de labuta à frente. Tão-pouco
     um branco ateu cristão tres-
            malhado pelo Buda

         se adapta tão bem como o
búfalo – mais endriabado quanto domar
o queiram – o livre cachaço
     esticado e a cauda de cobra num laço
         sobre o flanco; sem gana
alguma de ser manso
            com o sábio sentado com os pés

         do mesmo lado, a querer
desmontar no santuário; nem mesmo haverá
quaisquer presas
     de marfim como esses dois chifres que valentes
         se baixam quando tosse um tigre
     e transformam o pelo
            num inútil despojo.

         O búfalo das Índias,
levado pelos pastores pequenos de pernas nuas
ao curral de palha onde
     o guardam, não tem comparação a temer
         com o bisonte, com a parelha,
     nem com nenhum parente
            da genealogia do gado.




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