A proposta de trabalho ao longo da semana para a aula de 16 de Março é a de tentar compreender a categorização de estratégias de tradução de Andrew Chesterman - p. 89-94 (atenção que a p. 91 está trocada com a p. 92) e procurar exemplos de textos (de preferência trabalhados em aula) cujas propostas de tradução se apliquem a algumas das estratégias indicadas.
Desafio para quem quiser desenferrujar o francês: procurar encontrar exemplos das estratégias nas traduções de Marianne Moore das Fábulas de La Fontaine (o melhor será escolher um dos poemas das p. 97-104 e comparar com a sua tradução).
Apresento a seguir algumas das estratégias que, penso eu, foram utilizadas por Marianne Moore na tradução da fábula “Le Renard et les Raisins” de La Fontaine. Na linha 2 da fábula, o substantivo “faim” foi traduzido pelo verbo “starved”, ou seja, ocorreu aqui uma mudança na classe de palavras. Isso demonstra a utilização da transposição como estratégia de tradução. Pode-se observar uma mudança de ênfase na linha 5 em que o foco deixa de ser “le galand” e passa a ser “grapes”. Na linha 4, houve adição de metáfora não existente no texto original: “Des Raisins mûrs apparement” foi traduzido por “As though there were gems inside”. Em inglês “gems” é colocado como metáfora para “mûrs”. Na primeira linha da fábula, “Certain Renard Gascon” foi traduzido utilizando a paráfrase como estratégia de tradução. A sua tradução por “A fox of Gascon” explicita que a raposa veio da região da Gasconha (mas nesse caso escreve-se Gascony em inglês). Uma questão que pode ser levantada aqui é que em francês o termo “Gascon” pode estar se referindo ao dialeto gascão, enquanto a sua tradução em inglês, ao explicitar que a raposa vem de “Gascon”, exclui essa outra possibilidade de interpretação. A paráfrase também foi utilizada na tradução de “Normand” para “of Norman descent”. Na última linha, uma das estratégias utilizada foi a mudança na estrutura da frase: no original em francês o sujeito poético faz uma pergunta, marcada pelo ponto de interrogação; já na sua tradução não há mais ponto de interrogação e o sujeito poético fica “visível” na fábula, pois o pronome “I” é utilizado. Essa pergunta na última linha da versão original da fábula apresenta de certa maneira a opinião do sujeito poético acerca da ação da raposa e introduz a “lição de moral” da fábula. No caso da versão em francês, o eu lírico interpela diretamente seus leitores, incentivando-os a pensar acerca dessa “lição de moral”. Na tradução para o inglês, esse incentivo não se faz de maneira tão direta.
ResponderEliminarApresento em seguida alguns exemplos retirados do poema «The Tunnel», de Hart Crane (Trad. de Maria de Lourdes Guimarães, In A ponte, R.A, 1995, p. 100-103).
ResponderEliminar«Where boxed alone a second, eyes take fright/ —Quite unprepared rush naked back to light:», traduzido por «Onde os olhos, cerrados por instantes, se alarmam/ — Surpreendidos por um regresso brusco à claridade:»
Podemos identificar uma relação de sinonímia entre «a second» e «por instantes». No primeiro verso, ocorre uma alteração na estrutura da frase. A tradução de «quite unprepared» por «surpreendidos por» parece ser resultado de uma estratégia semântica, nomeadamente «converses».
«And so/ of cities you bespeak/ subways, rivered under streets/ and rivers…» «E assim/ sugeres as passagens subterrâneas/ da cidade, traçadas sob as ruas/ e os rios…» Verifica-se uma alteração na estrutura da frase que permite a manutenção da aliteração: «cities», «bespeak», «subways»/ «sugeres», «passagens subterrâneas», «cidade»; assim também, «rivered» e «rivers» são transportados para «ruas» e «rios».
«But I want service in this office SERVICE/ I said—after/…» «Mas eu quero ser servido neste posto PÚBLICO/Disse eu— após/…» Este é um exemplo de «scheme change», em que a repetição — service service — dá lugar a uma aliteração — posto público.
Em relação à tradução de Fernando Pessoa “ O Guardador de Rebanhos” por Erin Mouré, é feita uma transposição ao traduzir “entardecer” por “sunset” (verbo intransitivo para substantivo). É utilizada também a adaptação em vários momentos, já que o público-alvo é canadense “that Book by Erin Mouré”, “St. Clair”, “Vaughan Road”. A tradutora também faz uma mudança pragmática ao utilizar o registro coloquial que não existe no texto original “My eyes burn anyhow but I don’t care” (Leio até me arderem os olhos) e faz ainda uma explicitação/ ampliação incluindo o trecho “I’m still reading” que também não existe no texto original. Acredito que foi utilizada também a paráfrase em “How she makes me ache! She was a creek’s companion” que ficou bem distante do original “Que pena que tenho dele! Ele era um camponês”. E notei ainda uma mudança na estrutura da frase na tradução de “mas andava na cidade...” por “just walks downtown” (alteração de pretérito imperfeito para presente), entre outras estratégias.
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