quarta-feira, 10 de maio de 2017

The complete poem before time (Emerson) and symbolist correspondences

"For poetry was all written before time was, and whenever we are so finely organized that we can penetrate into that region where the air is music, we hear those primal warblings, and attempt to write them down, but we lose ever and anon a word, or a verse, and substitute something of our own, and thus miswrite the poem. The men of more delicate ear write down these cadences more faithfully, and these transcripts, though imperfect, become the songs of the nations. For nature is as truly beautiful as it is good, or as it is reasonable, and must as much appear, as it must be done, or be known. Words and deeds are quite indifferent modes of the divine energy. Words are also actions, and actions are a kind of words.

[...]

Beyond this universality of the symbolic language, we are apprised of the divineness of this superior use of things, whereby the world is a temple, whose walls are covered with emblems, pictures, and commandments of the Deity, in this, that there is no fact in nature which does not carry the whole sense of nature; and the distinctions which we make in events, and in affairs, of low and high, honest and base, disappear when nature is used as a symbol. "
              Ralph Waldo Emerson, "The Poet"(1844)

Correspondances (Charles Baudelaire, Les Fleurs du Mal, 1857)
La Nature est un temple où de vivants piliers
Laissent parfois sortir de confuses paroles;
L'homme y passe à travers des forêts de symboles
Qui l'observent avec des regards familiers.

Comme de longs échos qui de loin se confondent
Dans une ténébreuse et profonde unité,
Vaste comme la nuit et comme la clarté,
Les parfums, les couleurs et les sons se répondent.

II est des parfums frais comme des chairs d'enfants,
Doux comme les hautbois, verts comme les prairies,
— Et d'autres, corrompus, riches et triomphants,

Ayant l'expansion des choses infinies,
Comme l'ambre, le musc, le benjoin et l'encens,
Qui chantent les transports de l'esprit et des sens.
 Charles Baudelaire

                      

Tradução e comentário de Spicer

Ver, a propósito, o conceito de "tradução generativa" avançado por Lisa Rose Bradford, aqui: http://docs.lib.purdue.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=2365&context=clcweb



Onde se diz ser esta tradução aquela que, em vez de clonar o poema, o cultiva, e também: "This time-traveled correspondence is key in generative translation, which creates an expression that points, implies, insinuates within a serialized moment where the volume functions as an echo of other voices."

He Died at Sunrise 

A translation for Allen Joyce 

Night of four moons 
And a single tree, 
With a single shadow 
And a single bird.

I look into my body for 
The tracks of your lips.
A stream kisses into wind 

Without touch.

I carry the No you gave me 
Clenched in my palm
Like something made of wax 

An almost-white lemon.

Night of four moons 
And a single tree
At the point of a needle 

Is my love, spinning. 

Jack Spicer (After Lorca, 1957) 

Muriò al amañecer

Noche de cuatro lunas
y un solo árbol,
con una sola sombra
y un solo pájaro.

Busco en mi carne las
huellas de tus labios.
El manantial besa al viento
sin tocarlo.

Llevo el No que me diste,
en la palma de la mano,
como un limón de cera
casi blanco.

Noche de cuatro lunas
y un solo árbol,
En la punta de una aguja,
está mi amor ¡girando!


Things do not connect; they correspond. That is what makes it possible for a poet to translate real objects, to bring them across language as easily as he can bring them across time. That tree you saw in Spain is a tree I could never have seen in California, that lemon has a different smell and a different taste, BUT the answer is this – every place and every time has a real object to correspond with your real object- that lemon may become this lemon, or it may even become this piece of seaweed, or this particular color of gray in this ocean. One does not need to imagine that lemon; one needs to discover it.
Even these letters. They correspond with something (I don’t know what) that you have written (perhaps as unapparently as that lemon corresponds to this piece of seaweed) and, in turn, some future poet will write something which corresponds to them. That is how we dead men write to each other. (extract from letter to García Lorca in Jack Spicer's After Lorca, 1957)



segunda-feira, 8 de maio de 2017

After Spicer

Verlaine

Uma tradução para Maria Gabriela Llansol

Uma canção
Que nunca hei-de cantar
Adormeceu-me nos lábios.
Uma canção
Que nunca hei-de cantar.

Sobre a madressilva
Uma libelinha
E a lua pica
com um raio a água.

Nesse momento vou imaginar
A canção
Que nunca hei-de cantar.

Uma canção cheia de lábios
E sulcos distantes.

Uma canção cheia de horas
perdidas na sombra.

A canção de uma estrela viva
e um dia contínuo.




Querido Spicer,

O dia é contínuo tal como o poema. Podias preferi-lo permanente ou perpétuo. Foi assim que o leste, não foi, perpétuo? Mas, como música, é nessa própria insuficiência (a interpretação, mais precisamente) que a música se conhece ininterrupta e contínua. «O compositor planeia, a música ri», o poeta escreve, a poesia é. Por isso, não consigo traduzir o riso da música tal como a música se ri.

Quando traduzo o que escreveste, não faço qualquer intenção de reunir partes, como se as houvesse, de um todo. Pelo contrário, prefiro eliminar qualquer traço que leve a crer que partes foram reunidas numa só. É o que está ali, por si e em si mesmo. O poema pode sugerir o infinito se houver um desvio da norma até bem, bem longe. Apenas ao desmontar os elementos tradicionalmente usados para construir um poema pode a poesia existir por si mesma – não como símbolo, nem memória, que era, logo à partida, memória de um outro poema.

A decomposição das coisas traz à vida os seus equivalentes. Tal como na música: eu não sei o que uma flauta é até que alguém a toque para mim. A flauta corresponde a alguém a tocar a flauta, ou só o som de alguém a tocar a flauta, ou só o som sem saber que se trata de uma flauta. O som e a flauta correspondem-se, sem fazer disso nota. E o som é tão visível como a flauta, podemos apontá-lo como apontamos a flauta, apenas não o vemos na mesma óptica.

Mas a flauta não é o símbolo do som, nem o som da flauta a memória de alguém a tocá-la. Escreveste-o e eu repito, não se trata de reunir partes – em memória de, etc – mas de deixar que as coisas se correspondam, no seu tempo e espaço. E se um carro passa na rua, entra pela janela e se faz ouvir para além da flauta, então, nesse espaço e nesse tempo o carro pertence tanto ao som como à flauta. Quem o lê como interferência, desconhece a música que pode passar num carro e manter-se, já depois do virar da esquina, contínua.



Regina


quarta-feira, 3 de maio de 2017

T. P. C. para 11 de Maio - George Steiner e Jack Spicer

Duas opções

1. Procurar traduzir desde p. 239 antologia / p. 109 do ensaio de G. Steiner, Errata ("This is Why I believe") até p. 241 antologia /112 do ensaio  ("This is also part of the harvest of Babel") e dar aqui conta de algumas dificuldades.

2. Relacionar o pensamento de Steiner sobre a tradução com o manifesto por Jack Spicer na "correspondência" póstuma de After Lorca.

Meir Sternberg, "Polylingualism as Reality and Translation as Mimesis"




Langston Hughes and "The New Negro"

1870 - 5th Amendment: direito de voto aos indivíduos negros de sexo masculino (indiscriminação do sexo no acesso ao voto só seria ratificada pelo 19th Amendment em 1920).

MAS condições de direito a voto (imposto de eleitor, literacia, etc) continuaram a impedir na prática o acesso dos afro-americanos às urnas.

1902 - Nasce Langston Hughes, em Joplin, Missouri, segundo filho de Carrie Mercer Langston (prof. primária) e James Nathaniel Hughes, que cedo se separa da mulher e se instala no México, revoltado contra a política racial e de classe dos EUA. L. Hughes é sobretudo criado pela avó materna, que fora das primeiras mulheres a frequentar Oberlin College.

1910 - Fundação da  National Association for the Advancement of Colored People (NAACP) com a revista mensal Crisis 

1917 - Marcus Garvey, nascido na Jamaica, chega  a Harlem e funda a United Negro Improvement Association (UNIA)


1919 - W. E. B. Dubois organiza o Congresso Pan-Africano em Paris

120-1933 - Prohibition

1921 - Langston Hughes ingressa na Universidade de Columbia, curso de engenharia. Sairá em 1922 devido ao preconceito racial.
É fundada a Black Swan Phonograph Corporation (editora de jazz); Langston Hughes publica "The Negro Speaks of Rivers" na revista Crisis.

1920's: emergência da onda do jazz na Beale Street (Memphis Blues: Armstrong, Muddie Waters, Albert King...)

1922-24 - Hughes entra na marinha e passa tempo na Europa (Londres e Paris)

1922 - Publicação da antologia The Book of American Negro Poetry.

1923: Duke Ellington chega a NY com a banda The Washingtonians; abertura do Cotton Club em Harlem; Josephine Baker actua na Broadway. 

1924 - Hughes regressa para viver com a mãe em Washington D. C., trabalha como secretário de um historiador, mas deixa o emprego para ter mais tempo para a escrita e vai trabalhar como paquete do Wardman Hotel.

1924 - Countee Cullen ganha o primeiro prémio da Witter Bynner Poetry Competition

1925 - Antologia The New Negro (ed. Alain Locke), com Countee Cullen, Langston Hughes, Zora Neale Hurston. Hughes encontra Vachel Lindsay, que se tornará promotor da sua poesia.

 1926 - The Weary Blues (Knopf); fundação de uma revista, Fire!!, com Z. Neale Hurston e Wallace Thurman.

1927 - Fine Clothes to The Jew (Knopf)

1929 - peça de teatro de Wallace Thurman, Harlem, abre na Broadway.

1930 - publicação do primeiro romance de de L. Hughes, Not Without Laughter

1932 - atraído pelo Comunismo, L. Hughes integra um grupo de artistas americanos que viaja à União Soviética para rodar um filme sobre a luta afro-americana nos EUA.


1937 - publicação de Their Eyes Were Watching God, de Zora Neale Hurston.  Hughes viaja a Espanha para apoiar a Guerra Civil Espanhola.




1953 - Hughes responde perante o Tribunal do Senador McCarthy

1955- 1 de Dez. - episódio de Rosa Parks e início do Movimento dos Direitos Civis.

1959 - disco Weary Blues com Charles Mingus (1922-1979) e Leonard Feather (1914-1994)