quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Homework for November 2

Read Antoine Berman's warning against "deforming tendencies" in literary translation (anthology, p. 146-152 - English readers only can download an English version from here)
Try to exemplify the temptation and/or avoidance of these tendencies in Fernando Pessoa's translation of "Ulalume" by Edgar Allan Poe, or others done so far (including William Carlos Williams, which you might want to start to read)

(photograph of Antoine Berman)


8 comentários:

  1. Na tradução de Fernando Pessoa do poema “Ulalume” de Edgar Allan Poe, nota-se maioritariamente que o tradutor tentou quase com grande sucesso dar uso àquilo a que Antoine Berman chamou de “Tendências Deformantes”, que muitos tradutores não conseguem deixar de utilizar.
    Por exemplo, o tradutor conseguiu evitar usar a tendência deformante chamada de “alongamento” ao longo de todo o poema; pelo contrário, enquanto os versos na língua de chegada eram longos, os versos traduzidos tornaram-se mais curtos (“Nor the ghoul-haunted woodland of Weir.” que foi traduzido assim: “Nem a fria floresta ‘spectral.”).
    Se bem que nem mesmo o próprio tradutor não conseguiu deixar de dar uso a uma das maiores tendências deformantes à qual nenhum tradutor consegue escapar: clarificação. Na terceira estrofe do poema, o sujeito poético diz desconhecer a altura do ano em que se encontrava nem o que é que essa noite significava para ele (só mais tarde é que se sabe o que se passara); mas Pessoa ao traduzir “And we marked not the night of the year (…)” por “Nem p’la noite do ano fatal(…)” já está a dar aos leitores a ideia de que aquela noite estava marcada por um acontecimento fatal que marcara o sujeito poético (facto esse que, no original, só nos é explicado no final).
    Contudo, não se encontra ao longo da tradução vestígios de outras tendências como “destruição de ritmos” (aliás, o ritmo permanece do texto de chegada se bem que com pequenas adaptações para português), nem empobrecimentos qualitativos e/ou quantitativos. Já para não falar daquelas que, no poema em questão, nem precisam de ser tentados, como “a destruição das locuções”.
    Quer todo isto dizer que em todas as traduções que se façam, há sempre a tentação de dar uso a uma ou mais tendências deformantes. Às vezes o uso ou não delas depende do conteúdo do texto de partida e da experiência dos próprios tradutores que pode ser grande ao ponto de ter outras saídas durante a tradução, ou pode ser pouca e o tradutor ache-se obrigado a usar essas tendências para não deixar o texto por traduzir.

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    1. Correção: na segunda linha, o que eu quero dizer é: "...o tradutor tentou quase com grande sucesso não dar uso àquilo a que Antoine Berman chamou de “Tendências Deformantes”

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  2. Através de uma analítica da tradução, Antoine Berman faz o levantamento das diferentes implicações do ato de traduzir, e mostra um leque de treze Tendências Deformantes, ás quais o tradutor recorre: racionalização; clarificação; alongamento; enobrecimento; empobrecimento qualitativo; empobrecimento quantitativo; homogeneização; destruição de ritmos; destruição das redes significantes subjacentes; destruição dos sistematismos; destruição das locuções, o apagamento das superposições de línguas e a destruição ou a exotização das redes vernáculas da fala. É relevante frisar que tais tendências acabam por afastar o texto das suas fronteiras.
    Perante a tradução realizada por Fernando Pessoa do poema “ Ulalume”, de Edgar A. Poe, na segunda estrofe é visível que o tradutor se afastou do alongamento ao traduzir ( “ These were days when my heart was volcanic”), por: “ Eram dias de mente vulcânica”. Muitas vezes o tradutor acaba por adotar esta Tendência deformante, em parte devido á clarificação e á racionalização, contudo não acrescenta nada nem á matéria falante nem á significação.
    Ao longo do poema podemos constatar que Pessoa evitou a destruição de ritmos, pois não modificou a pontuação do poema e trouxe para o texto de chegada as rimas presentes no texto de partida. Isto é, o tradutor manteve na língua portuguesa o jogo feito com os sons da língua inglesa, conservando assim a essência do poema, embora esta seja uma tarefa bastante complicada uma vez que ambas as línguas divergem. Da mesma forma evitou também a racionalização, o enobrecimento, o empobrecimento qualitativo, o empobrecimento quantitativo, a homogeneização, a destruição das redes significantes subjacentes, a destruição dos sistematismos, a destruição das locuções e o apagamento das superposições de línguas.
    Relativamente á clarificação, é possível verificar que na terceira estrofe Pessoa serviu-se desta estratégia quando traduziu: (“And we marked not the night of the year”), por: “Nem p’la noite do ano fatal”, explicitando desta forma aquilo que o original deixou implícito. Tal leva a crer que esta informação adicional era importante para o leitor, e neste sentido o tradutor optou por utilizar esta tendência embora ela seja deformante. Na verdade, todos os tradutores, de alguma forma, acabam por não conseguir deixar de lado algumas destas tendências, na esmagadora maioria das vezes a tradução exige que as adotemos. Outras vezes, é o nosso perfecionismo que nos leva a acreditar que utilizá-las será a melhor opção para o leitor.
    Para concluir é relevante ter em consideração que Berman ao teorizar e ao criticar estas Tendências Deformantes, defende a preservação da letra.

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Atraves a explicação de Antoine Berman sobre as “Tendências Deformantes”, como aqueles “diabinhos” que induzem quase sempre o tradutor em tentação, consegui analisar a tradução de Fernando Pessoa ao poema "Ulalume" de Edgar Allan Poe, segundo o texto publicado no «Providence Journal» de Novembro de 1848.
    Em primeiro lugar, acho que Pessoa respeitou fortemente o ritmo ao longo do poema, reproduzindo rimas e sons que caraterizam o texto original. Por outro lado, anotei algumas passagens em que o poeta português modifica a puntuação, sobstituindo por exemplo um traço com um ponto de esclamação, é o caso do penúltimo verso na penúltima estrofe: no original há "Ulalume – Ulalume – "; na tradução há "Ulalume!Ulalume!".
    Em segundo lugar, percebi na tradução de Pessoa alguns traços de clarificação na tentativa de explicitar qualquer coisa não muito clara no original, estou a falar do quinto verso da sexta estrofe em que Pessoa traduz o original: "Oh fly! - let us fly! - for we must." com "Para longe, onde a alma está só." Será que aqui, como o Berman diz, "pretende-se tornar “claro” o que o não é e nem o quer ser no original"?
    Em terceiro lugar, se não estou enganada, encontrei um empobrecimento qualitativo na substituição duma expressão, que Pessoa fez provocando a conseguinte perda da riqueza icónica e do som do verso, ou melhor, produzindo uma diferente imagem atraves a destruição duma frase. Estou a falar do sétimo verso da penúltima estrofe, que tem no original: "What is written, sweet sister," e que Pessoa traduziu com: "Que legenda é que vejo".
    Em conclusão, apesar de alguns traços em que Pessoa, como um bom tradutor que se respeita, caiu na tentação das “Tendências Deformantes” descritas por Berman, acho esta uma tradução bastante fiel ao original.

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  5. Ao analisar a tradução de “Ulalume”, é possível verificar a existência de algumas tendências deformantes em algumas partes do poema.

    No primeiro verso do texto de chegada, acrescenta-se a palavra “frio” à descrição do céu, que no original conta apenas com as palavras “ashen” e “sober”.
    Penso que este acrescento pode, de certa forma, ser considerado uma forma de enobrecimento.

    A mesma situação ocorre no segundo verso da tradução, em que se acrescenta que as folhas eram “de um louro mortal”, e não apenas secas ou ressequidas (“crisped and sere”).

    No quinto e sétimo versos da versão em português, dá-se também a clarificação, uma vez que os sentidos das palavras “fatal” (no quinto verso) e “espectral” (no sétimo verso) não estão presentes no original e ainda explicitam indevidamente de que se trata o poema (a morte de uma amada e o “reencontro”, por casualidade, com o local onde ela jaz).

    Para além disto, penso que há ainda um empobrecimento qualitativo ao substituir “heart” por “mente” no décimo terceiro verso do poema.

    Por outro lado, a tradução de “Ulaleme” também preserva a letra do poema, no sentido em que soube respeitar o seu ritmo e evitar o alongamento (um exemplo disto é a passagem do verso “For we knew not the month was October” para “Pois não demos p’lo Outubro vazio”.

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  6. Na tradução do poema 'Ulalume', embora Pessoa tente evitar o uso das chamadas 'tendências deformantes', do Antoine Bermann, ao comparar a tradução com a versão original do poema há situações em que se pode notar a existência de algumas destas tendências.
    Por exemplo, na primeira linha do poema, o inglês ' The skies were ashen and sober' é traduzido por 'O céu era lívido e frio'. Acho que esta tradução pode ser considerada uma forma de enobrecimento.
    Encontrei outro caso de enobrecimento no terceiro verso da versão portuguesa, onde 'For we knew not the month was October', é traduzido por 'Pois não demos p'lo Outubro vazio'. Aqui o uso da palavra 'vazio' pode ser considerado enobrecimento, porque no original encontra-se só 'Outubro'.
    Além disso, no sexto verso encontrei o que eu acho que é um exemplo de clarificação. Aqui Pessoa traduziu 'Oh, fly!- let us fly! - for we must', por 'para longe, onde a alma está só'. Esta tradução considero clarificação, porque parece que Pessoa está a explicar um aspecto do poema que não está presente no original, ou seja, como diz o Bermann: ' tornar claro o que o não é nem o quer ser no original'.
    Contudo, penso que a tradução de "Ulalume', do Fernando Pessoa é uma tradução bastante fiel ao original.

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  7. Na tradução de Fernando Pessoa do poema "Ulalume" de Edgar Allan Poe, podemos observar algumas tendências deformantes. Uma delas é a racionalização, em que podemos da como exemplo "And I said - «She is warmer than Dian»" que foi traduzido por "E eu disse: «Ela é lua em Verão»". Aqui temos uma racionalização, pois Pessoa "desvendou" o sentido e traduziu o mesmo, deixando-o a descoberto. Além da racionalização, em que podemos encontrar muitos outros exemplos nesta tradução, deparei-me também com um caso de empobrecimento qualitativo. Pessoa traduz "heart" por "mente" no verso "There were days when my heart was volcanic.". Talvez isto se deva à importância que se dava ao pensamento e à mente por esta ser considerada mais complexa. Os casos de racionalização também podem ser explicados pela tentativa bem sucedida de Pessoa de não alongar a tradução e não destruir o ritmo.
    Concluindo, creio que a tradução no seu todo está fiel ao original e está bem conseguida.

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