quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Elizabeth Bishop: homework for December 17th

Reply to either of the following:

1. Comment on Bishop's translations of Drummond de Andrade's "Poema de Sete Faces" (p. 367-268 and 275, anthology)

2. Read some of the poems included in Bishop's poetry collection, Questions of Travel (1965) and speculate on what in her writing style and themes might have drawn her to translate the examples of Brazilian modernist poetry she chose to render in English.


11 comentários:

  1. 1. Esta tradução de Elizabeth Bishop do poema de Drummond de Andrade é um exemplo de uma tradução que respeita tanto a mensagem como a letra do poema original. É uma tradução que apesar de ter poucas alterações semânticas com o original, também faz algumas mudanças na divisão dos versos. Começando pelo primeiro verso, o segmento “um anjo torto/desses que vivem na sombra” sofreu uma tradução que perdeu o aspecto explicativo em que o poeta explica quem são os anjos tortos “one of the crooked/angels who live in shadow”, o problema desta tradução é que dá a entender que há crooked angels que vivem nas sombras e outros que não – facto que não respeita a mensagem original. Na mesma estrofe, a tradutora fez um empréstimo para a língua de chegada ao manter o termo “gauche” que significa esquerdo em francês mas também significa estranho, desajeitado e acanhado.
    Na estrofe seguinte há um pequeno acrescento por parte da tradutora ao traduzir “As casas espiam os homens/que correm atrás de mulheres.” por “The houses watch the men,/men who run after women.” repetindo o item lexical “men” para realçar a ligação entre os dois versos. Também clarifica a linguagem do autor por uma linguagem mais próxima da oral ao traduzir “A tarde talvez fosse azul,/não houvesse tantos desejos.” por “If the afternoon had been blue,/there might have been less desire.” dando assim a sua própria interpretação dos versos.
    Seguintemente, nota-se uma diferença na forma de enumeração de elementos que pertencem ao mesmo referente ao traduzir “pernas brancas pretas amarelas.” por “white legs, black legs, yellow legs”. Depois há uma desconstrução da construção dos versos quando traduz “Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração./Porém meus olhos/não perguntam nada.” por “My God, why all the legs?/my heart asks. But my eyes/ask nothing at all.” Mas, ainda assim, a quintilha do poema original foi mantida.
    Na estrofe seguinte há uma alteração no significado do verso “Tem poucos, raros amigos” que foi assim traduzido para inglês “He has a few, choice friends,” alterando assim um pouco do conteúdo do texto de partida.
    Na estrofe seguinte existe a singularidade de o sujeito poético original dirigir-se a Deus com formas de tratamento usuais (usando os verbos na 2ª pessoa do singular) enquanto na tradução o sujeito fala de forma arcaica usando colocações antigas como “thou”, ou seja, estrofes como “Meu Deus, por que me abandonaste/se sabias que eu não era Deus,” que foram assim traduzidas “My God, why hast Thou forsaken me/if Thou knew’st I was not God,”
    Por fim há um caso de adaptação linguística ao traduzir o nome Raimundo (que rima com os outros versos) por Eugene (que rima com um outro verso), neste caso o sistema rimático com o nome perde-se excepto num único verso. E há também o caso de dois versos do poema que foram afastados e tornados num dístico à parte da estrofe onde estava originalmente (“Universe, vast universe,/my heart is vaster.”), convém também adicionar que o item lexical “mundo” foi substituído por um possível hipónimo “universe”.
    Para concluir, a tradução de Elizabeth Bishop procura respeitar o texto e a mensagem originais mas às vezes é necessário fazer algumas alterações (no ritmo, nas rimas, no léxico e nas construções frásicas) de forma a que o texto tenha o mesmo impacto nos leitores do texto de chegada como teve nos leitores falantes de português.

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  2. 1. Tal como o Gonçalo referiu, considero que Elizabeth Bishop preservou a letra, de que Antoine Berman fala, na tradução deste poema. Esta deu bastante importância ao sentido e fez de tudo para o preservar. Drummond e Elizabeth trocaram cartas sobre a tradução e esta diz-lhe preservou ao máximo o original, dizendo que fez uma tradução bastante "literal".
    No entanto, também deu uma grande importância ao ritmo e à fonética do poema. Temos, por exemplo, o caso de "se eu me chamasse Raimundo" em que Elizabeth optou por substituir Raimundo por Eugene "if I had been named Eugene", mantendo assim a rima com o verso "that would not be what I mean".
    Ainda na mesma estrofe, Bishop opta também por substituir "mundo" por "universe" para rimar com "verse" e insere "faster" para rimar então com "vaster". É interessante observar que o tipo de rima, que pode ser considerado pobre, é exactamente o mesmo feito por Elizabeth Bishop e, além disso, o jogo que teve de fazer para manter a rima e, ao mesmo tempo, o sentido. A preocupação de Bishop em não apagar a voz do autor era tão grande que esta decidiu transcrever a estrofe original para a sua tradução por sentir que este foi "adulterado".
    Logo na primeira estrofe, no terceiro verso, podemos observar também que Bishop optou por manter a palavra gauche. Depois de ler um artigo "Drummond e Bishop: O gauche em tradução" fiquei com a percepção que gauche é algo muito próprio do autor e que caracteriza o mesmo e a sua poesia. Além disso, também é um termo polissémico, pelo que só mantendo o estrangeirismo é possível transmitir ambas as conotações.
    Notei também que na quinta estrofe houve um enobrecimento do texto, que pode ser justificado com o "pouco" conhecimento do português do Brasil por parte da autora e também pela tentativa exaustiva por parte dela para manter a beleza do poema.

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  3. Elizabeth Bishop was primarily a poet, a writer. Her activity as a translator was secondary and possibly not one of her favorite, as most of the times it did not seem to come naturally or comfortably to her.

    To some extent, Bishop was a poet concerned with objectivity and accuracy. Her dislike for “confessional poetry” could testify that and, in fact, her translations of Brazilian poets seem to build on her own convictions about literary creation.

    Considering this, at first sight, Bishop’s translation “method”, if she had one, might seem to convey a conservative view of the translator’s role. It seems to dwell on the impossibility of translation.

    The footnote on her translation of the “Seven-Sided Poem” by Drummond de Andrade could serve as an example of her awareness of this “impossibility”, of her concern to please the author (with whom she exchanged letters while translating his poetry), of her concern to justify her choices as a translator.

    Actually, this seems to be characteristic of the “gauche”. Such as Carlos, also Elizabeth seems to be inadequate. Melancholic. And little confident about her translation work.

    Nevertheless, despite this apparent tendency to put herself aside, as a translator, from the work being translated, Bishop simultaneously shows that she is open to taking some “risks”, that she is able to “domesticize” the poem when needed.

    This is most obvious (again, despite the footnote) in the stanza “Universe, vast universe”, in which Bishop adapts the wording, including the name, in order to maintain the rhyme and the rhythm. In addition, by translating “raros amigos” as “choice friends” she seems to be attempting at letting her voice into the poem. Finally, “gauche” as she as well is, Bishop is able to capture and transmit the spirit of the poem.

    It is thus uncertain whether Elizabeth Bishop was uncomfortable with the Portuguese language, or was mostly unwilling to devote herself to the work of translation or simply had a conservative view on it. But some would agree that opting for a more literal translation instead of a more creative one, especially when translating poetry, was not to be expected from, nor worthy of such a renowned, important poet as Bishop.

    However, her translations get the message across and were definitely vital to introduce modern Brazilian literature into the English-speaking world and the USA in particular.

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  4. 1. No 3º verso da 1ª estrofe, Bishop não alterou a sintaxe e, deste modo, destruiu a sensação de estranheza que passa o texto de partida, sendo que a ordem mais natural seria “Vai ser gauche na vida, Carlos!”.

    Há uma perda de iconicidade no 1º verso da 2ª estrofe, pois “espiam” foi traduzido por “watch”, que não possui o mesmo significado, que embora seja também uma ação intencional e que pressupõe a atenção de quem a efetua, não envolve as mesmas condições que o ato de “espiar”.

    No 2 últimos versos da 2ª estrofe, há uma troca da causa pela consequência. Ou seja, ao passo que no texto de partida a tarde poderia ser azul caso não houvesse tantos desejos, Bishop indica que haveria menos desejos se a tarde fosse azul.

    No 2º verso da 3ª estrofe, enquanto no texto de partida a palavra “pernas” é usada apenas uma vez, Bishop inseriu na enumeração a palavra “legs” cada vez que estas mudavam os seus atributos. Deste modo, a tradutora introduziu uma repetição que pode mais facilmente ajudar o leitor a visualizar a grande quantidade de pernas que o sujeito poético menciona.

    Na 5ª estrofe, Bishop recorre a formas arcaicas do inglês, como: “thou”, e “hast” e “knew’st”. Bishop fez esta alteração à forma de tratamento, e ao discurso em si, possivelmente por o sujeito poético se estar a dirigir a Deus.

    Na última estrofe, Bishop optou pelo pronome demonstrativo “this” em vez de “that”, talvez porque, no português do Brasil, os pronomes “essa” e “esse” nem sempre são usados para demonstrar distância. Bishop poderá ter-se apercebido desta particularidade e então preferiu não fazer uma tradução tão “direta” dos pronomes.

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  5. Na tradução de Elisabeth Bishop de “Poema de sete faces” de Carlos Drummond de Andrade, embora a tradutora consiga, na maior parte, em manter o sentido original do poema, existem várias mudanças semânticas e gramaticais na sua tradução.

    Na primeira estrofe, “um anjo torto, desses que vivem na sombra” encontra-se traduzido por “one of the crooked angels who live in shadow”. Esta tradução perde uma parte do original porque não faz uma diferencia entre anjos que vivem na sombra e os que não. Por exemplo, Bishop podia ter escolhido traduzir assim: “a crooked angel, one of those, which lives in shadow”, que transmitira a mesma mensagem.
    Na mesma estrofe, ela também optou por manter o term ‘gauche’, que se encontra no original, que podemos identificar como uma estratégia de tradução por empréstimo.

    Na segunda estrofe, Bishop decidiu traduzir “espiar” como “watch”, quando existe a palavra “spy”, em inglês, que, na minha opinião, representaria melhor o sentido.
    Também identifiquei uma mudança gramatical na ultimas duas linhas da mesma estrofe: “A tarde talvez fosse azul, não houvesse tantos desejos”, traduzido por “ If the afternoon had been blue, there might have been less desire”. Neste caso, Bishop substituiu “talvez” por uma oração condicional, mudando o verbo haver, que se encontra formulado no imperfeito do conjuntivo para o condicional em inglês. Ela também optou por traduzir “tantos desejos” por “less desire”, que não representa a mesma mensagem.

    Outro elemento interessante na quinta estrofe é o uso dos formas de tratamento arcaicos ingleses, “thou”. Por um lado, embora desvie ligeiramente da essência do original, ao usar estes formas de tratamento, Bishop faz esta parte do poem sobressair do resto, porque transmite um sentido mas dramático. Por outro lado, ao optar por não ser fiel ao original, Bishop está a criar um novo elemento na tradução que não existe no original.

    Na sexta estrofe, acho interessante que se encontra a palavra ‘mundo’ traduzido por ‘universe’, que tem um sentido ligeiramente diferente. Nesta estrofe também se encontra a adaptação do nome “Raimundo”, por “Eugene”, para manter a rima, e Bishop muda completamente o sentido de “seria uma rima, não seria uma solução”, que ela traduziu por “that would not be what I mean, but it would go into verse faster”.

    Para concluir, Elizabeth Bishop mantem, geralmente, a mensagem inicial do “Poema de Sete Faces”, contudo algumas escolhas de tradução, particularmente no âmbito semântico, desviam do original, resultando numa mudança no sentido na língua de chegada.

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  6. This is a poem that shows the conservative side as well as the transformative side of Bishop's translation poetics. Not knowing Portuguese it was hard to pick these two versions apart, but I thought I should at least try.

    Immediately in the first stanza, the word 'gauche' stands out because it is just copied from the Portuguese version. This signals Bishop's conservative side, the side that doesn't like to change. She realized there was no equivalent available in the English language (maybe 'coarse'?), so she kept the Portuguese word. This downplays her role as a translator, as she's not contributing to a new work, she's merely performing a transference of meaning to another language.

    Another thing that catches the eye when glancing over the poem is the footnote. This reprises the literal Portuguese version as to signal that she is not sure if what she did was acceptable and wanted the reader to be able to judge for themselves. Again, she is downplaying her role and putting the original forward as the ultimate decider in whether a translation is good or not. In this way she seems very traditional.

    But then we also see the rebelious Bishop, the one who changes the source text. In the aforementioned stanza where the footnote is attached, she actually radically changed the text, changed the meaning even (which explains why she attached the footnote here). The first line contains the word 'universe' twice instead of thrice, and the second line diverts radically from its source. The name is no longer rhyming with the first line, but rather the third. The result is a changed rhyme scheme: from AABAB to ABBAB. Vocabulary and meaning is also changed because the stanza is now about meaning instead of rhyme. Furthermore, this stanza seems to contemplate meaning-making, which could relate to translation and her endeavours in the field.

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  7. Após uma comparação entre “o poema de sete faces” de Carlos Drummond de Andrade e a tradução realizada por Elizabeth Bishop concluímos que a tradutora apesar de ter incutido algumas alterações semânticas manteve a essência que envolve todo o poema.
    Na primeira estrofe constatamos que ao referir-se ao anjo torto a tradutora optou por cortar a explicação patente no original traduzindo esse fragmento por ““one of the crooked/angels who live in shadow”. Deste modo não é fiel ao original porque ao retirar a explicação presente no original o leitor é induzido em erro ao entender só alguns anjos é que vivem nas sombras. Ainda nesta estrofe entendemos que houve uma necessidade de recorrer a um empréstimo da língua de partida sendo que não foi possível encontrar um termo suficientemente bom na língua de chegada que transmitisse o mesmo sentido que o termo “ gauche” detém.
    Na terceira estrofe houve uma enumeração de “ pernas” ou seja enquanto no original temos “ pernas brancas, pretas e amarelas” na tradução temos “ white legs, blac legs and yellow legs”.
    Outra característica que não passa despercebida foi a alteração feita na 6ª estrofe ao traduzir “mundo“ por “universe” e “ Raimundo” por “ Eugene”. É certo que o sentido acaba por diferir de forma moderada, porém desta forma demonstrou uma grande preocupação em manter a rima e a sonoridade que também esta presente no texto original e com esta troca conseguiu. No entanto houve um cuidado por parte da tradutora ao explicar com uma nota a alteração que fez dado a conhecer ao leitor como está no original.
    Para concluir há que sublinhar que todas as alterações realizadas por Elizabeth Bishop foram necessárias á tradução conferindo-lhe qualidade e que apesar disso toda a mensagem presente no original e todas as ideias do autor foram mantidas.

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  8. I don't want to repeat what everybody just said about Seven-Sided Poem, so I'll focus on the aspects where I think there's a bigger distance from Andrade's original and Bishop's translation.
    1- If the afternoon had been blue,/there might have been less desire. There's a violent change of the causality direction, completely subverting the meaning of the original;
    2- white legs, black legs, yellow legs.
    The introduction of commas and the repetition of the object "legs" is overly explanatory. I would stick to the ambiguity: are the legs at the same time white, black and yellow? Or are they different legs of different colors?
    3- choice friends
    "Choice" friends means that the man behind the moustache has particular, preferred friends. Andrade's intention isn't that specific. Indeed, one may think that Andrade's man behind the moustache is just a lonely man with few acquaintances.

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  9. Elizabeth Bishop (1911-1979) foi uma autora americana considerada uma das mais importantes poetisas do século XX a escrever na língua inglesa. Trabalhou na tradução cuidadosa dos modernistas brasileiros para o público anglófono.
    “Representante ilustre da poesia moderna norte-americana, Bishop residiu no Brasil como estrangeira voluntariamente exilada de seu país, mas profundamente conectada com o movimento cultural norte-americano” «Brasiliana da Biblioteca Nacional», 2001.
    Ao texto de Carlos Drumond de Andrade “Poema de sete faces”, publicado pela primeira vez no livro “Alguma Poesia”(1930), Elizabeth Bishop aproxima uma tradução singular que denota um estilo próprio mas fiel ao texto original. Falar de “fidelidade” em tradução é sempre arriscado, ainda mais se falamos de tradução poética mas acho este, um caso, em que o tradutor consegui criar aquela “terceira voz” que vibra entre o texto traduzido e o original.
    A primeira coisa que notei a ler o original foi o uso dos versos livres, como recurso típico daqueles poetas modernistas ligados à corrente simbolista. É curioso ler este poema, que tem muitos elementos explicitos à religião, e pensar que o verso livre foi introduzido em poesia através traduções principalmente da Biblia.
    Na primeira estrofe ela usa a tecnica da reprodução seletiva (na teoria de Meir Sternerg, é uma das modalidades de representação da heteroglossia), ou seja, reproduz à letra “gauche” em itálico. Gauche em francês é esquerda mas neste caso é aquilo que é torto, ou seja, o caminho torto do anjo.
    O poema é composto por sete estrofes, caracterizadas da oralidade - do mundo brasileiro - que marca o ritmo dos versos brancos, alternados à rimas (raras) mas que adicionam um elemento importante ao conteudo. Na tradução, Elizabeth Bishop respeita o ritmo e a expressividade oral como é possivel ver, por exemplo, na terceira estrofe:
    “Porém meus olhos/não perguntam nada.” por “But my eyes/ask nothing at all.”
    e no verso final:
    “botam a gente comovido como o diabo” por “play the devil whit one's emotions”.

    Outro aspeto muito evidente da questão do ritmo, é a solução que ela encontrou em traduzir a sexta estrofe:

    “Mundo mundo vasto mundo, por
    se eu me chamasse Raimundo
    seria uma rima, não seria uma solução.
    Mundo mundo vasto mundo
    mais vasto é meu coração.”



    “Universe, vast universe,
    if I had been named Eugene
    that would not be what I mean
    but it would go into verse
    faster.
    Universe, vast universe,
    my heart is vaster.”

    Ela adiciona dois versos para respeitar as rimas cruzadas do original, e escolhe o nome “Eugene” mais próximo á língua inglesa, que faz rima com “that would not be what I mean”.

    Estes são só alguns dos aspetos importantes nesta tradução, que achei mais interessantes relatar neste comentário.

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  10. Começo por dizer que, apesar de ser uma tradução bem fiel (e que há traduções e traduções, cada um interpreta como entende, daí advém a riqueza da literatura), gostei da alternativa apresentada, logo no início do poema, por Bishop relativamente a um dos anjos (como apresentado na obra original, “one of the crooked angels”) – “um anjo torto, desses que vivem na sombra”. O uso do “desses que” confere à imagem um tom mais leve, mais coloquial, como se Drummond estivesse a contar uma história tranquilamente num banco de jardim.
    O uso de “gauche” aceita-se pois não existe exactamente um uma palavra em português que faça justiça ao termo (basicamente, “socially awkward”), o uso do empréstimo, na minha opinião, era mandatório. Bishop podia optar por usar termos como “socialmente inapto” ou “desajeitado” mas sou de opinião de que retiraria significado à expressão e ao texto em si.
    Em “afternoon had been blue”, não escolheria “a tarde talvez fosse azul”. Bishop talvez tenha querido conferir um lado mais “poético” à frase mas pessoalmente usaria “tivesse a tarde sido menos vivaça” ou “tivesse a tarde sido menos sombria” (pensei em gloomy). A imagem de Drummond passa através das palavras de Bishop mas com mais dificuldade para o leitor, neste caso em particular.

    (Continua)

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  11. Bishop traduziu “choice friends” por “raros amigos”. Aqui não concordo com a tradução. Não por estar errada, pois está claramente implícito no original que o homem tem poucos amigos, mas devido ao significado que a palavra “choice” possui neste contexto. Creio que Drummond queria passar a imagem de que os poucos amigos que o homem do bigode tem são poucos pois são escolhidos cuidadosamente, praticamente a dedo. Não são quaisquer amigos, são indivíduos que o homem por qualquer razão considera especiais ao ponto de os manter por perto. Sugiro o uso de “próximos” ou “chegados”, de forma a enfatizar a relação entre eles.
    A substituição do nome “Eugene” por “Raimundo” muito provavelmente deve-se a uma simples tentativa de manter a rima. “Eugene”  “mean”;
    “Mundo”  “Raimundo”.

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