terça-feira, 6 de junho de 2017

Last class - last homework

Though they hardly must've known each other, the last class will be focussed on two poets who had contact with Portuguese culture. Comment on one of the following:


1. Write a critique of Elizabeth Bishop's translations of Drummond de Andrade's "Poema de Sete Faces" (p. 258 - english - and 264 - original)



2. Attempt to translate (part of) Allen Ginsberg's poem on Fernando Pessoa at the last page of the anthology. 


quarta-feira, 10 de maio de 2017

The complete poem before time (Emerson) and symbolist correspondences

"For poetry was all written before time was, and whenever we are so finely organized that we can penetrate into that region where the air is music, we hear those primal warblings, and attempt to write them down, but we lose ever and anon a word, or a verse, and substitute something of our own, and thus miswrite the poem. The men of more delicate ear write down these cadences more faithfully, and these transcripts, though imperfect, become the songs of the nations. For nature is as truly beautiful as it is good, or as it is reasonable, and must as much appear, as it must be done, or be known. Words and deeds are quite indifferent modes of the divine energy. Words are also actions, and actions are a kind of words.

[...]

Beyond this universality of the symbolic language, we are apprised of the divineness of this superior use of things, whereby the world is a temple, whose walls are covered with emblems, pictures, and commandments of the Deity, in this, that there is no fact in nature which does not carry the whole sense of nature; and the distinctions which we make in events, and in affairs, of low and high, honest and base, disappear when nature is used as a symbol. "
              Ralph Waldo Emerson, "The Poet"(1844)

Correspondances (Charles Baudelaire, Les Fleurs du Mal, 1857)
La Nature est un temple où de vivants piliers
Laissent parfois sortir de confuses paroles;
L'homme y passe à travers des forêts de symboles
Qui l'observent avec des regards familiers.

Comme de longs échos qui de loin se confondent
Dans une ténébreuse et profonde unité,
Vaste comme la nuit et comme la clarté,
Les parfums, les couleurs et les sons se répondent.

II est des parfums frais comme des chairs d'enfants,
Doux comme les hautbois, verts comme les prairies,
— Et d'autres, corrompus, riches et triomphants,

Ayant l'expansion des choses infinies,
Comme l'ambre, le musc, le benjoin et l'encens,
Qui chantent les transports de l'esprit et des sens.
 Charles Baudelaire

                      

Tradução e comentário de Spicer

Ver, a propósito, o conceito de "tradução generativa" avançado por Lisa Rose Bradford, aqui: http://docs.lib.purdue.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=2365&context=clcweb



Onde se diz ser esta tradução aquela que, em vez de clonar o poema, o cultiva, e também: "This time-traveled correspondence is key in generative translation, which creates an expression that points, implies, insinuates within a serialized moment where the volume functions as an echo of other voices."

He Died at Sunrise 

A translation for Allen Joyce 

Night of four moons 
And a single tree, 
With a single shadow 
And a single bird.

I look into my body for 
The tracks of your lips.
A stream kisses into wind 

Without touch.

I carry the No you gave me 
Clenched in my palm
Like something made of wax 

An almost-white lemon.

Night of four moons 
And a single tree
At the point of a needle 

Is my love, spinning. 

Jack Spicer (After Lorca, 1957) 

Muriò al amañecer

Noche de cuatro lunas
y un solo árbol,
con una sola sombra
y un solo pájaro.

Busco en mi carne las
huellas de tus labios.
El manantial besa al viento
sin tocarlo.

Llevo el No que me diste,
en la palma de la mano,
como un limón de cera
casi blanco.

Noche de cuatro lunas
y un solo árbol,
En la punta de una aguja,
está mi amor ¡girando!


Things do not connect; they correspond. That is what makes it possible for a poet to translate real objects, to bring them across language as easily as he can bring them across time. That tree you saw in Spain is a tree I could never have seen in California, that lemon has a different smell and a different taste, BUT the answer is this – every place and every time has a real object to correspond with your real object- that lemon may become this lemon, or it may even become this piece of seaweed, or this particular color of gray in this ocean. One does not need to imagine that lemon; one needs to discover it.
Even these letters. They correspond with something (I don’t know what) that you have written (perhaps as unapparently as that lemon corresponds to this piece of seaweed) and, in turn, some future poet will write something which corresponds to them. That is how we dead men write to each other. (extract from letter to García Lorca in Jack Spicer's After Lorca, 1957)



segunda-feira, 8 de maio de 2017

After Spicer

Verlaine

Uma tradução para Maria Gabriela Llansol

Uma canção
Que nunca hei-de cantar
Adormeceu-me nos lábios.
Uma canção
Que nunca hei-de cantar.

Sobre a madressilva
Uma libelinha
E a lua pica
com um raio a água.

Nesse momento vou imaginar
A canção
Que nunca hei-de cantar.

Uma canção cheia de lábios
E sulcos distantes.

Uma canção cheia de horas
perdidas na sombra.

A canção de uma estrela viva
e um dia contínuo.




Querido Spicer,

O dia é contínuo tal como o poema. Podias preferi-lo permanente ou perpétuo. Foi assim que o leste, não foi, perpétuo? Mas, como música, é nessa própria insuficiência (a interpretação, mais precisamente) que a música se conhece ininterrupta e contínua. «O compositor planeia, a música ri», o poeta escreve, a poesia é. Por isso, não consigo traduzir o riso da música tal como a música se ri.

Quando traduzo o que escreveste, não faço qualquer intenção de reunir partes, como se as houvesse, de um todo. Pelo contrário, prefiro eliminar qualquer traço que leve a crer que partes foram reunidas numa só. É o que está ali, por si e em si mesmo. O poema pode sugerir o infinito se houver um desvio da norma até bem, bem longe. Apenas ao desmontar os elementos tradicionalmente usados para construir um poema pode a poesia existir por si mesma – não como símbolo, nem memória, que era, logo à partida, memória de um outro poema.

A decomposição das coisas traz à vida os seus equivalentes. Tal como na música: eu não sei o que uma flauta é até que alguém a toque para mim. A flauta corresponde a alguém a tocar a flauta, ou só o som de alguém a tocar a flauta, ou só o som sem saber que se trata de uma flauta. O som e a flauta correspondem-se, sem fazer disso nota. E o som é tão visível como a flauta, podemos apontá-lo como apontamos a flauta, apenas não o vemos na mesma óptica.

Mas a flauta não é o símbolo do som, nem o som da flauta a memória de alguém a tocá-la. Escreveste-o e eu repito, não se trata de reunir partes – em memória de, etc – mas de deixar que as coisas se correspondam, no seu tempo e espaço. E se um carro passa na rua, entra pela janela e se faz ouvir para além da flauta, então, nesse espaço e nesse tempo o carro pertence tanto ao som como à flauta. Quem o lê como interferência, desconhece a música que pode passar num carro e manter-se, já depois do virar da esquina, contínua.



Regina